A década de 80 foi a era de ouro do Rock Nacional, com o aparecimento de dezenas de bandas que dominaram a cena musical no Brasil. Bandas com perfil rebelde sacudiram o país de norte a sul, rompendo de vez com as amarras do sistema impostas aos filhos da Revolução, palavras raivosas foram ditas numa voracidade crua, sem filosofias ou compromissos, e por isso mesmo traduziam um real sentimento, escancarar a realidade. Um notável mar de verdades certeiras influenciou os jovens que passaram a compor e a cantar em seu próprio idioma o ritmo que mais curtiam o Rock and Roll, trazendo de volta ao topo das paradas nacionais, a língua Portuguesa.
Chamado de BRock, um apelido dado por Nelson Motta teve influências variadas, indo do New Wave, passando pelo Punk e o próprio conteúdo Pop emergente do final da década de 70. Ainda assim, em alguns casos, tomou por referência ritmos como o Reggae e a Soul Music. Suas letras falam na maioria das vezes sobre amores perdidos ou bem sucedidos, não deixando de abordar é claro algumas temáticas sociais. O grande diferencial das bandas deste período era a capacidade de falar sobre estes assuntos sem deixar a música tomar um peso emocional ou político exagerado. Fora a capacidade que seus integrantes tinham de falar a respeito de quase tudo com um tom de ironia, outra característica marcante do movimento. Outra particularidade típica foi o visual próprio da época; cabelos armados ou bastante curtos para as meninas, gel, roupas coloridas e extravagantes para os meninos e a unissexualidade de tudo isso, herança direta do Glam Rock de Marc Bolan, David Bowie e seus discípulos, como o Kiss e The Cure.
As bandas nacionais eram ousadas, contestadoras e geograficamente dispersas, em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Brasília apareciam bandas no início dos anos 80, e isso acontecia quase que simultaneamente. Em Brasília surgiu o Aborto Elétrico que se desfez e deu origem a Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. O Rio de Janeiro revelou Os Paralamas do Sucesso, Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens, Gang 90 e as Absurdettes, Barão Vermelho, dentre outras. São Paulo também teve uma infinidade de bandas influentes na cena nacional como Ultraje a Rigor, RPM, Titãs e Ira!. No Rio Grande do Sul surgiram os Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós, TNT, Taranatiriça, Cascavelletes, Os Replicantes, Garotos da Rua, De Falla. O Nordeste também contribuiu com a banda baiana Camisa de Vênus liderada por Marcelo Nova e com forte influencia de Raul Seixas.
Varias outras bandas de expressão surgiram nessa época como Sempre Livre, Biquíni Cavadão, Hanói Hanói, Hojerizah, Harmony Cats, Lobão e os Ronaldos, Metrô, Magazine, Grafitti, Tókio, Heróis da Resistência, Ed Motta & Conexção Japeri, além de cantores (as) como Marina Lima, Léo Jaime, Ritchie, Kid Vinil, Fausto Fawcett, entre outros.
O BRock tem retornado ao cenário musical atual através de algumas bandas que voltaram a ativa e diversas coletâneas, regravações e versões feitas em formato acústico, apesar de toda concorrência desleal do mercado teen, as bandas Oitentistas tem seu lugar garantido e fazem cada vez mais adeptos, de todas as faixas etárias por todo o país. Cabe a nós a missão de transmitir as novas gerações todo esse acervo musical que marcou a vida de muitos jovens com o estimulo cultural e social, alertando e divertindo com irreverência e inteligência.
Salve o Rock Nacional.